Pular para o conteúdo principal

Furacões e o aquecimento global


Furacão Irma. (Fonte: NASA, 06/09/2017).

Por que falar sobre furacões? Nós brasileiros temos extrema "sorte" de estarmos localizados em uma região do globo que atualmente está livre de fenômenos como grandes terremotos ou furacões. O que me motivou a escrever um pouco mais sobre essas tempestades tropicais foi uma experiência pessoal que passei em setembro, há pouco mais de um mês, em que presenciei a passagem no furacão Irma (imagem) quando estava em Punta Cana, República Dominicana (ponto vermelho na imagem). Minha proposta com esse post é fazer uma breve explicação sobre os furacões, focando a abordagem de como é feita a previsão de sua trajetória, quais são as fontes mais acuradas para acompanhar a sua localização e também o que o aquecimento global tem a ver com esses fenômenos. No próximo post falarei um pouco mais sobre como foi estar bem próximo ao maior furacão já formado no oceano Atlântico e quais providências foram tomadas e por fim por que não há furacões no Brasil e se há chance desses fenômenos surgirem por aqui.

Os furacões são tempestades tropicais gigantes que se formam próximo à linha do Equador e que produzem chuvas e ventos fortes além de riscos de avanços do mar sobre a costa, quando este se desloca nessa direção. Eles giram em torno de um ponto central chamado de "olho". Neste ponto há uma grande calmaria, sem chuva ou ventos. A parte mais perigosa dos furacões está nas paredes do olho, região esta onde se encontram as chuvas e ventos mais fortes. À medida que nos afastamos das paredes do olho, as tempestades vão diminuindo, até chegar a extremidade, onde há pouca chuva e quase nenhum vento.

Mas quais ingredientes são necessários para a formação desses eventos? Essencialmente são três: ventos de direção contrária que se encontram, alta umidade do ar e oceano de água quente (acima de 26ºC). Por esse último fator podemos deduzir que há pelo menos alguma relação entre os furacões e o aquecimento global (para maiores esclarecimentos sobre o aquecimento global acesse o meu último post). De acordo com a cientista que estuda o clima na Universidade Texas Tech, Katherine Hayhoe, a frequência desses fenômenos não é diretamente afetada pelo aquecimento global. Em contrapartida, segundo a cientista, ele acaba por intensificar a tempestade que já existe uma vez que a evaporação da água do mar é facilitada e quanto maior for a umidade atmosférica mais fortes serão as tempestades associadas ao evento. Por esse motivo, as águas quentes são para o furacão como gasolina para o fogo, pois a cada grau a mais na água aumenta em 7% a umidade do ar. O aumento do nível dos oceanos também é apontado como vilão para a intensificação dos eventos devido ao volume extra de água que se une àquele que avança sobre a costa durante um furacão, causando maior destruição.

A NASA utiliza imagens e dados obtidos através de diversos satélites para estudar e aprender mais sobre a formação dos furacões e as características atmosféricas que levam ao seu acontecimento. Entre as grandezas medidas por esses equipamentos estão: temperatura do oceano e das nuvens, altura das nuvens e velocidade das gotas de chuva e direção e velocidade do vento. Já com relação aos estudos que visam reduzir o número de mortes e planejar a evacuação de uma região durante esses eventos, estudos de previsão do caminho dos furacões tem sido desenvolvidos nos últimos anos através de observações in loco e também por meio de modelos matemáticos 3D cada vez mais precisos. Aviões especiais chamados "caça-furacões" voam em direção ao olho do furacão e soltam sensores capazes de medir a velocidade do vento, temperatura e a pressão do ar em tempo real fornecendo boas pistas das possíveis direções que ele deve tomar. Durante eventos extremos os Estados Unidos monitoram os furacões no Atlântico norte enviando esses aviões especiais a cada 4 horas e atualizam as informações nesse link e nesse também. Além desses sites, existe ainda um site que mostra as correntes de vento no globo em tempo real, onde os furações e seu deslocamento também podem ser acompanhados.

Curiosamente, os furacões são nomeados anualmente em ordem alfabética começando sempre pela letra "A" e alternando entre um nome feminino e um masculino. Para o oceano Atlântico, por exemplo, existem seis listas de nomes. Essas listas são reutilizadas a cada 6 anos. Se determinada tempestade faz muitos estragos ela é retirada da lista e seu nome é substituído (veja aqui as listas completas dos nomes).

Esses fenômenos são classificados em 5 categorias de acordo com a velocidade dos ventos, sendo que furacões nível 5 apresentam ventos acima de 250 km/h. Nos últimos 50 anos foram registrados no oceano Atlântico apenas 5 furacões de categoria 3 ou superior. No século XX, tem-se conhecimento de ter havido 45.000 mortes devido a esses eventos. O furacão Irma ocorrido em setembro de 2017, de categoria 5, foi o maior furacão já registrado no oceano Atlântico e uma das tempestades mais fortes da história. Próximo ao olho foram registrados ventos de aproximadamente 300 km/h e 55 pessoas morreram. No próximo post vou descrever como foi minha experiência de estar próximo desse evento de magnitudes gigantes e que marca a história mais recente desse tipo de evento no oceano atlântico.

No dia 10 de setembro de 2017, o Fantástico exibiu uma reportagem interessante sobre os furacões com foco no Irma, assista aqui.

REFERÊNCIAS:
https://spaceplace.nasa.gov/hurricanes/en/
https://www.nasa.gov/audience/forstudents/k-4/stories/nasa-knows/what-are-hurricanes-k4.html
https://worldview.earthdata.nasa.gov/
https://www.nytimes.com/interactive/2017/09/09/us/hurricane-irma-records.html
https://www.nytimes.com/2017/08/25/us/hurricane-harvey-climate-change-texas.html

🌀☔

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Impactos do aquecimento global nos oceanos

Nesse post foram expostos todos os prováveis impactos do aquecimento global de forma abrangente, de acordo com o último relatório do IPCC. A presente postagem busca se aprofundar nas alterações que podem ocorrer nos oceanos, com foco no entendimento do aumento da acidificação e quais as suas consequências. Decidi falar mais sobre os oceanos uma vez que as alterações observadas neles ao longo do anos são muito perceptíveis e também por eles serem o maior termômetro da evolução do aquecimento global, como escrevi nesse post . Fazendo uma retrospectiva dos pontos principais das alterações do oceano já documentas pelo homem, temos cinco pontos críticos. Eles estão relacionados abaixo e as informações são baseadas em estudos realizados pela EPA (Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos): Aquecimento dos oceanos : conforme pode-se observar na figura abaixo, t rês análises independentes mostram que a quantidade de calor armazenada no oceano aumentou substancialment

E as consequências do aquecimento global?

Fazendo uma retrospectiva dos posts anteriores, iniciamos nossa conversa falando um pouco mais sobre o aquecimento global, como e por que ele ocorre e quais as melhores formas de monitorá-lo. Ainda, foi feito um paralelo entre os furacões e o aquecimento global e como esse evento pode vir a intensificar os fenômenos naturais como os furacões. Por último, a experiência de ter estado na República Dominicana durante a passagem do furacão Irma foi compartilhada e foi explicado por que estes fenômenos podem vir a ocorrer no Brasil no futuro. Nesse post falaremos sobre todas as mudanças, riscos e impactos que o aquecimento global pode trazer, de acordo com o último relatório do IPCC ( Intergovernmental Panel on Climate Change ) publicado em 2014, e no próximo post entenderemos quais são nossas alternativas para frear o avanço desse evento e quais são os meios para mitigar seus efeitos. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) é o principal órgão internacional para a

Como as mudanças climáticas podem afetar a disponibilidade de água potável e quais as soluções?

A água, nos seus diversos estados, está sempre em movimento, em um processo complexo conhecido como ciclo da água. O aquecimento global já está tendo um efeito mensurável sobre este ciclo, alterando a quantidade, distribuição, tempo de retorno e qualidade da água disponível. Esse post é dedicado a comentar quais são as influências das mudanças climáticas global sobre o ciclo da água, afinal, todos os processos como conhecemos hoje, sejam eles relativos ao abastecimento de comunidades, processos industriais e o funcionamento dos ecossistemas dependem direta ou indiretamente desse precioso ciclo. Para compreender o problema da escassez de água doce, invariavelmente temos que entender a distribuição da água no planeta. Aproximadamente 98% da nossa água é salgada e apenas 2% é doce. Desse 2%, quase 70% são neve e gelo, 30% são águas subterrâneas, menos de 0,5% são águas superficiais (lagos, rios, etc.) e menos de 0,05% está na atmosfera. As mudanças climáticas têm vários efeitos