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E as consequências do aquecimento global?

Fazendo uma retrospectiva dos posts anteriores, iniciamos nossa conversa falando um pouco mais sobre o aquecimento global, como e por que ele ocorre e quais as melhores formas de monitorá-lo. Ainda, foi feito um paralelo entre os furacões e o aquecimento global e como esse evento pode vir a intensificar os fenômenos naturais como os furacões. Por último, a experiência de ter estado na República Dominicana durante a passagem do furacão Irma foi compartilhada e foi explicado por que estes fenômenos podem vir a ocorrer no Brasil no futuro. Nesse post falaremos sobre todas as mudanças, riscos e impactos que o aquecimento global pode trazer, de acordo com o último relatório do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) publicado em 2014, e no próximo post entenderemos quais são nossas alternativas para frear o avanço desse evento e quais são os meios para mitigar seus efeitos.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) é o principal órgão internacional para a avaliação das mudanças climáticas. Foi estabelecido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) e pela Organização Meteorológica Mundial (WMO) em 1988 com o intuito de fornecer ao mundo uma visão científica clara sobre o estado atual do conhecimento sobre as mudanças climáticas e seus potenciais impactos ambientais e socioeconômicos. Atualmente, 195 países são membros do IPCC, sendo que para o desenvolvimento e revisão dos relatórios periódicos publicados, inúmeros cientistas de diversos países são acionados.

Em linhas gerais, o último relatório do IPCC mostra que a emissão contínua de gases de efeito estufa causará mudanças climáticas duradouras em todos os componentes do sistema climático, aumentando a probabilidade de impactos severos e irreversíveis para as pessoas e para os ecossistemas. Frear o avanço das mudanças climáticas exige reduções substanciais das emissões de gases de efeito estufa que, juntamente com a adaptação, podem limitar os riscos das mudanças previstas.

Sobre as mudanças climáticas projetadas, o IPCC prevê que a temperatura da superfície aumente ao longo do século XXI em todos os cenários de emissão avaliados. É muito provável que as ondas de calor ocorram mais frequentemente e durarão mais tempo, e que os eventos de precipitação extrema se tornarão mais intensos e frequentes em muitas regiões. O oceano continuará aquecendo e acidificando, e o nível médio do mar aumentará. Na imagem abaixo são mostradas as mudanças previstas para os anos de 2081 a 2100 para a média da temperatura da superfície (a), para a média de precipitações (b) e para a média do nível dos oceanos (c) em comparação às mudanças ocorridas entre os anos de 1986 a 2005.


Além disso, a mudança climática ampliará os riscos existentes e criará novos riscos para os sistemas naturais e humanos. Os riscos são distribuídos de forma desigual e geralmente são maiores para pessoas e comunidades desfavorecidas em países em todos os níveis de desenvolvimento. Os principais riscos que abrangem setores e regiões incluem:
1. Risco a saúde grave e meios de subsistência interrompidos por tempestades severas, aumento do nível do mar e inundações costeiras; inundações interiores em algumas regiões urbanas; e períodos de calor extremo.
2. Riscos sistêmicos devido a eventos climáticos extremos que levam à quebra de redes de infraestrutura e serviços críticos.
3. Risco de insegurança da água e alimentar e perda de meios de subsistência e renda rural, em particular para populações mais pobres.
4. Risco de perda de biodiversidade e desequilíbrio nos ecossistemas. 

A imagem abaixo mostra os riscos principais por região afetada.


Em termos de implicações do aquecimento global, o IPCC resumiu em cinco pontos mais importantes os principais riscos associados. São eles:  

1. Sistemas ameaçados: alguns ecossistemas e culturas já estão em risco em virtude da mudança climática. Com um aquecimento adicional de cerca de 1°C, o número de sistemas ameaçados por graves consequências aumenta. Muitos sistemas com capacidade de adaptação limitada, particularmente os associados ao gelo marinho do Ártico e aos recifes de corais, estão sujeitos a riscos muito elevados com um aquecimento adicional de 2°C. Além dos riscos resultantes da magnitude do aquecimento, as espécies terrestres também são sensíveis à taxa de aquecimento, as espécies marinhas à taxa e grau de acidificação dos oceanos e os sistemas costeiros também apresentam sensibilidade ao aumento do nível do mar.

2. Eventos meteorológicos extremos: os riscos relacionados a eventos extremos, como ondas de calor, fortes precipitações e inundações costeiras já são considerados moderados atualmente. Com um aquecimento adicional de 1°C, os riscos se elevam ainda mais.


3. Distribuição dos impactos: os riscos são distribuídos de forma desigual entre grupos de pessoas e entre regiões. Eles geralmente são maiores para as pessoas desfavorecidas e as comunidades em todos os lugares. Atualmente os riscos já são moderados, particularmente na agricultura. Com base na diminuição projetada no rendimento das culturas regionais e na disponibilidade de água, os riscos de impactos distribuídos de forma desigual são elevados com um aquecimento adicional acima de 2°C.


4. Impactos agregados globais: os riscos dos impactos globais são moderados sob aquecimento adicional entre 1°C e 2°C, refletindo impactos na biodiversidade da Terra e na economia global. A perda extensiva de biodiversidade e consequente desiquilíbrio dos ecossistemas, leva a riscos elevados quando do aumento de cerca de 3°C de aquecimento adicional. Os danos econômicos agregados aceleram com o aumento da temperatura, mas poucas estimativas quantitativas estão disponíveis para aquecimento adicional acima de 3°C.


5. Eventos singulares em larga escala: com o aumento do aquecimento, alguns sistemas físicos e ecológicos correm o risco de mudar abruptamente podendo ser irreversíveis. Os riscos associados a esses pontos de inclinação são moderados entre 0 e 1°C de aquecimento adicional, uma vez que existem sinais de que tanto os recifes de coral de água quente como os ecossistemas do Ártico já estão experimentando mudanças de regime irreversível. Os riscos aumentam a uma taxa de acentuação sob um aquecimento adicional de 1 a 2°C e se tornam altos acima de 3°C, devido ao grande potencial e irreversibilidade da elevação do nível do mar a partir do degelo. Para o aquecimento entre 0,5°C e 3,5°C, haveria perda quase completa da camada de gelo da Groenlândia ao longo de um milênio ou mais, aumentando o nível médio global do mar em 7 metros.

Por último, o relatório atenta que muitos aspectos das mudanças climáticas e seus impactos associados continuarão por séculos, mesmo que as emissões antropogênicas de gases de efeito estufa sejam interrompidas e ainda, que os riscos de mudanças abruptas ou irreversíveis aumentam à medida que a magnitude do aquecimento aumenta. 

REFERÊNCIAS

https://www.ipcc.ch/index.htm
https://www.ipcc.ch/pdf/assessment-report/ar5/syr/SYR_AR5_FINAL_full_wcover.pdf

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